Suspirei. A casa de veraneio, como assim gostava de chamar, parecia acanhada ao me receber. Já não tinha mais o mesmo cheiro de antes, já havia muitas outras coisas novas, as quais ela não colocaria se estivesse aqui.
Não há piscina, como assim preferia. Abri as janelas, depois de soltar as travas e pude ver cada um dos minúsculos grãos de poeira, que brilhavam em saudação sob a luz do final da tarde. Lembrei que as noites já não têm o carinho nas costas, o beijo e o “eu te amo, te adoro, te venero”. O futebol ou a corrida aos finais de semana são acompanhados só por mim, sem ela. Não há mais tapetes na sala, nem o brigadeirão que ela fazia.
Tentei encontrar o carinho, disse “eu te amo” várias vezes e fiz sozinha o famoso brigadeirão, mas nada mais é como antigamente.
Inspirei o cheiro de umidade e solidão, e percebi o óbvio: a vida não tem o mesmo curso para todos, e é preciso que haja aqueles que dão sentido ao que os outros fazem... são os que seguem solitários por toda jornada. Entendi que talvez algumas coisas não me estão reservadas, e que é essa aceitação que, enfim, poderia me dar a paz de espírito que me fora roubada há 9 anos, em meio ao turbilhão da adolescência.
10 dias das mães sem ela. Acendi as luzes, abri o vinho. Começaria agora.