Acordou com o coração acelerado, peito apertado, encharcada em suor, enquanto o relógio marcava alguma hora perdida da madrugada e a TV exibia, para ninguém, "Corujão do Esporte".
Sentou-se no colchão (porque as camas ficaram para os casais, e sobrou-lhe o chão para dormir) e, de repente, sentiu-se invadida por todos os sons daquela cidade estranha (bonita, porém estranha)... alguém andando no quarto acima, o holofote da boate que insistia em ficar rodando, carros com risos altos e passos daqueles que estavam vagando por ali.
Apoiou a cabeça nas mãos, passou-as pelos cabelos; sentia escorrer pelos braços o suor tenso, sentia subir-lhe pela nuca o arrepio da ansiedade. Seus olhos queimavam como brasas vivas, enquanto avistava a bela noite, estrelada, calma, e ainda assim, sentia como se uma tempestade fosse anunciada, distante.
Doía-lhe a cabeça. Contraiu-se. Esticou os braços e agarrou as únicas pílulas que o médico lhe autorizara ingerir. Tomou tantas quantas pudesse, sem correr o risco de lhe fazer mal. Todas, num único gole d'água.
Ar. Precisava de ar. Tentou fechar os olhos e controlar a respiração, tentou imaginar-se em algum lugar verde, com vento soprando, com pequenas pétalas de flores se soltando e flutuando junto às borboletas, dia adentro.
Mas o coração não se aquietava. O dia viria. Ainda que lutasse, que não o quisesse, o dia viria.
Então, antes dele, vestiu os shorts e a blusinha surrada, enfiou os pés no confortável chinelo e saiu, evitando o elevador, decidiu ir pelas escadas, entregando-se aos suspiros da noite que, teimosa, parecia não ter fim.
Passou a guarita, desejou boa noite (sem resposta) e foi reto, sem rumo. Sem dar-se conta estava ali, beirando a praia, sozinha, naquela escuridão. Ela, que evitava as areias sempre que podia, decidiu sentar-se no deque e contemplar alguma coisa, coisa tal que sequer passava pela sua cabeça. O mar. A brisa. Até mesmo a areia.
E foi naquela noite que, depois de 1/4 de século, conseguiu entender o que se escondia na imensidão do que estava à sua frente; do que estava sob as areias sem os guarda sóis e as pessoas, e as bolas, e as crianças e o monte de carrinhos disto e daquilo.
E entendeu que gostava, sim, daquilo tudo, mas que somente conseguia captar a riqueza daquela natureza se estivesse daquele jeito, aflita, sem saber o porque. Só conseguiria desfrutar de toda aquela magia se estivesse olhando pra dentro de si, sem pensar em ninguém nem em nada.
E foi naquela noite que, não mais aversa, agora descalça, andou pela areia, onde o estrondo do mar lhe convidava, parecendo a única coisa, no meio de todo o turbilhão de sentimentos, que fazia algum sentido.
Sob o forte vento da praia, ergueu as mãos, segurou os cabelos, fechou os olhos, sorriu seu melhor sorriso e entendeu que estava de volta ao recomeço.
Naquela noite, a menina que pensava ser feliz somente com pessoas ao seu redor, se tornou a mulher que podia, entendendo-se a si mesma, se bastar.
Naquela noite, sobre as areias da praia.
segunda-feira, 25 de abril de 2011
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário