A calmaria das manhãs sempre a acompanhava, era como se as luzes do sol do domingo de manhã fizessem parte de sua pele e quando era exposta a sua luz quase avermelhada projetava uma sombra tão grande que, quem olhasse, jamais poderia dizer que pertencia a um corpo tão pequeno.
Ela caminhava em passos decididos e firmes e tranquilos. Observava cada milímetro à sua frente: calçava sempre grandes saltos, e não queria arriscar vê-los presos em uma fresta. Jamais temia um tombo, já que todos os passos sempre foram firmes, temia era estragar o calçado, que a acompanhava para todos os lados. Trazia nos olhos o rímel preto e o lápis sempre marcado, olhos estes, cheios dos dias que passou longe, de chuvas e trovoadas, trazia a paisagem de lugares distantes e impensáveis, que talvez nunca estivera, olhos cheios de dissabores, mas com muito mais amores.
Em frente ao espelho, a princesa em sua torre solitária, anacrônica, agredia a paisagem ao mesmo tempo em que a tornava única, inigualável. Foi ela a responsável por tantas aventuras de infância, não só minhas, mas dos primos, quase meus irmãos, e dos tios, quase filhos dela... foi ela o argumento de tantas mães para convocar os filhos de volta para casa, foi - e ainda o é - a silenciosa guardiã de mistérios que confundem-se entre fantasia e ficção.
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A véspera de ano novo deixara a noite vazia, as pessoas histéricas, mas o cachorro, seu companheirinho, este não, estava calmo, fora do normal. Na visita olhávamo-la, enquanto enfermeiras caminhavam e sempre esticavam os olhos pro quarto, querendo saber como a ‘dona da luz’ estava aquele dia.
Ela caminhava em passos decididos e firmes e tranquilos. Observava cada milímetro à sua frente: calçava sempre grandes saltos, e não queria arriscar vê-los presos em uma fresta. Jamais temia um tombo, já que todos os passos sempre foram firmes, temia era estragar o calçado, que a acompanhava para todos os lados. Trazia nos olhos o rímel preto e o lápis sempre marcado, olhos estes, cheios dos dias que passou longe, de chuvas e trovoadas, trazia a paisagem de lugares distantes e impensáveis, que talvez nunca estivera, olhos cheios de dissabores, mas com muito mais amores.
Em frente ao espelho, a princesa em sua torre solitária, anacrônica, agredia a paisagem ao mesmo tempo em que a tornava única, inigualável. Foi ela a responsável por tantas aventuras de infância, não só minhas, mas dos primos, quase meus irmãos, e dos tios, quase filhos dela... foi ela o argumento de tantas mães para convocar os filhos de volta para casa, foi - e ainda o é - a silenciosa guardiã de mistérios que confundem-se entre fantasia e ficção.
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A véspera de ano novo deixara a noite vazia, as pessoas histéricas, mas o cachorro, seu companheirinho, este não, estava calmo, fora do normal. Na visita olhávamo-la, enquanto enfermeiras caminhavam e sempre esticavam os olhos pro quarto, querendo saber como a ‘dona da luz’ estava aquele dia.
Já havia se despedido de todo mundo durante o ano que passara, e já havia avisado que aquele seria seu último, que sabia daquilo. Para aquela noite, ela havia preparado tudo, pensado em tudo. Convenceu-nos que deveríamos sair, nos divertir. Convenceu a tia que ela precisava descansar, que estava tudo bem. E fomos, e aceitamos, e acreditamos.
Ela era assim, inspirava segurança, confiança. E também se foi assim, segura e confiante.
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Hoje à noite, enquanto caminhava, sentia vir a suave e gélida brisa e o cheiro de terra molhada, da chuva que se aproximava, do mato, e ouvia ao longe o canto de algum pássaro que, estranhamente, permanecia acordado. Revia muros e cercas, revia cores que eu sequer conhecia. Vinha dela, talvez?
Parei por um momento, segurei Joaquim e deixei meus pulmões serem invadidos pelo frescor da garoa, como se puxasse em minhas narinas a própria pureza da água que começava a cair do céu.
E era hora de voltar, enxugar os olhos e terminar a noite, para amanhã recomeçar.
... Continuar ...
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